sexta-feira, 17 de abril de 2009

O Homem Light

Assim como nos últimos anos entraram na moda certos produtos light – o tabaco, algumas bebidas ou certos alimentos –, também se foi gerando um tipo de homem que poderia ser qualificado como o homem light.
Qual é o seu perfil psicológico? Como poderia der definido? Trata-se de um homem relativamente bem informado, porém com escassa educação humana, entregue ao pragmatismo, por um lado, e a bastantes lugares comuns, por outro. Tudo lhe interessa, mas só a nível superficial; não é capaz de fazer a síntese daquilo que recolhe e por conseguinte, foi-se convertendo num sujeito trivial, vão, fútil, que aceita tudo mas que carece de critérios sólidos na sua conduta. Nele tudo se torna etéreo, leve, volátil, banal, permissivo. Presenciou tantas mudanças, tão rápidas e num tempo tão curto, que começa a não saber a que ater-se ou, o que é o mesmo, faz suas afirmações como “tudo vale”, “tanto faz” ou “as coisas mudaram”. E assim encontramo-nos com um bom profissional na sua especialidade, que conhece bem a tarefa que tem entre mãos, mas que fora desse contexto está à deriva, sem ideias claras, apegado – como está – a um mundo cheio de informação, que o distrai, mas que pouco a pouco o converte num homem superficial, indiferente, permissivo, gerando nele um grande vazio moral.
As conquistas técnicas e científicas – impensáveis até há bem poucos anos – trouxeram-nos progressos evidentes (…). Porém, diante de tudo isto há que pôr sobre a mesa aspectos da realidade que funcionam mal e que mostram a outra face da moeda.
a) Materialismo: faz com que o indivíduo tenha certo reconhecimento social pela única razão de ganhar muito dinheiro.
b) Hedonismo: viver bem à custa do que quer que seja é o novo código de comportamento, o que atira para a morte dos ideais, o vazio de sentido e a busca de uma série de sensações cada vez mais novas e excitantes.
c) Permissividade: destrói os melhores propósitos e ideais.
d) Revolução sem finalidade e sem programa: a ética permissiva substitui a moral o que produz uma desordem generalizada.
e) Relativismo: tudo é relativo com o que se cai na absolutização do relativo; brotam assim umas regras presididas pela subjectividade.
f) Consumismo: representa a fórmula postmoderna da liberdade.
Deste modo, as grandes transformações sofridas pela sociedade nos últimos anos são, ao princípio contempladas com surpresa, logo a seguir com uma progressiva indiferença ou, noutros casos, como necessidade de aceitar o inevitável. A nova epidemia de crises e rupturas conjugais, o drama das drogas, a marginalização de tantos jovens, o desemprego e outros factos da vida quotidiana admitem-se sem mais, como algo que está aí e contra o qual não se pode fazer nada.
Das entranhas desta realidade sócio-cultural vai surgindo um novo homem light, produto do seu tempo. Se lhe aplicamos a luneta observadora descobrimos que dele fazem parte as características seguintes: pensamento débil, convicções sem firmeza, apatia nos seus compromissos, indiferença sui generis feita de curiosidade e relativismo ao mesmo tempo…; sua ideologia é o pragmatismo, sua norma de conduta, o hábito social, o que se tolera, o que está na moda; sua ética fundamenta-se na estatística, substituta da consciência; sua moral, repleta de neutralidade, falta de compromisso e subjectividade, é relegada para a intimidade, sem se atrever a vir a público.
O homem light não é religioso nem ateu, mas alguém que construiu para si mesmo uma forma particular de espiritualidade segundo a sua perspectiva. É ele quem decide o que está bem e o que está mal e a sua ânsia de infinito começa por uma satisfação materialista (dinheiro, poder, prazer, distinções e lugares onde figurar) e acaba por fabricar para si mesmo uma ética à sua medida. No entretanto, trata os demais como objectos e instrumentaliza a relação com eles.

Enrique Rojas, O Homem Light – Uma Vida Sem Valores, pp.7-9

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